Nada pode ser mais avesso à ideia da Convivência em Grupo do que o isolamento social imposto como forma de preservação da vida durante a atual Pandemia.
Ainda que boa parte de crianças e adolescentes vive a quarentena sob as asas da família – o primeiro e conhecido núcleo de convivência social, o que se tornou mais penoso no #ficaemcasa para eles (além, é claro, das mortes e das carências de ordem econômica e sanitária) foi a falta de amigos. Ou seja, daquelas criaturas “estranhas” e que, aos poucos, derrubam as barreiras dos diferentes jeitos de ser para se tornarem imprescindíveis no cotidiano: o amigo do prédio; as meninas que moram na mesma rua; a amiga para andar de mãos dadas no recreio da escola; os parceiros de jogo na quadra… Como ficar sem eles?
Os primeiros dados e pesquisas feitas durante a quarentena revelam que as videochamadas de celulares e partidas de videogame online já não bastam mais. O desejo é de presença física e, de preferência, com manifestação concreta do afeto.
“Nós nos tornamos nós mesmos através dos outros” (Lev Vygostky)
˗˗ Quando volto a abraçar meus amigos? a pergunta ecoa no cotidiano de milhares de crianças e adolescentes em todo o mundo. Isso mesmo: o desejo de convivência baseada no vínculo e no afeto surge como vacina poderosa para recuperar a alegria de viver. Pesquisa feita pelo aplicativo educacional Dynamo, com a turma na faixa dos 8 aos 12 anos de idade, mostrou que em fevereiro, antes da quarentena, 14.4 % das crianças queriam estar com os amigos. O índice alcançou mais de 22% nos meses subsequentes, conforme foram se sentindo isolados em casa.
Mesmo na Dinamarca, com escolas reabertas, o sentimento é o mesmo. Uma menina de sete anos entrevistada pela BBC News declarou sobre o “novo recreio” com grupos reduzidos e distanciamento social: “o mais difícil de tudo é não poder mais abraçar os amigos.”
O desenho que ilustra a abertura deste artigo, de Gabriel Oliveira Novais, de 8 anos, é exemplar. Gabriel explica por que desenhou um garoto de costas espiando pela janela: “O menino está aí porque queria brincar, mas não pode. Ele queria estar lá fora, mas ele não pode, por causa do coronavírus. O significado do meu desenho é que eu não posso sair de casa, e nem brincar com os meus amigos.”
Já Natally Kerpen, de 11 anos, lamenta a falta de contato físico: “a única forma de eu falar com meus amigos é pelo celular.” No Instagram da Unicef, Yasmin, de apenas 5 anos, confessa estar com muita saudade “da amiga Ana Clara e do Guilherme” e espera “logo logo vê-los de novo e poder abraçá-los”.
Legenda: Yasmin, 5 anos, espera ver e abraçar os amigos
No meu livro Convivendo em Grupo, almanaque de sobrevivência em sociedade, celebro a necessidade de romper as barreiras que nos separam do Outro – única maneira de viver em sociedade. Então como enxergar alguma perspectiva enquanto houver pandemia e distanciamento social, onde nem mesmo a reabertura das escolas dá conta do prazer da convivência em grupo?
Mas as crianças vão sempre mais longe. No isolamento social, elas convidam a “refletir sobre a vida”, como explicou Bernardo, de 9 anos, num vídeo no instagram da Unicef. Refletir no isolamento e repensar a necessidade humana do vínculo, tão necessário para qualquer ideia de educação. Não custa repetir como mantra: Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo. (Paulo Freire)
Legenda: Bernardo, 9 anos, convida a refletir sobre a vida nesta pandemia
Saiba mais sobre a campanha da Unicef Sentimentos no Papel No site da Unicef: https://www.unicef.org/brazil/sentimentos-no-papel No instagram: https://www.instagram.com/stories/highlights/18139370791016004/
Coleção Informação e Diálogo
A coleção Informação e Diálogo trata de temas atuais, que estão em discussão na mídia e que, com certeza, renderão um bom diálogo e uma proveitosa troca de ideias entre os jovens de 11 a 14 anos. Livros em formato de Almanaque que usam e abusam de hipertextos com o intuito de oferecer ao jovem um conjunto de temas que possam ser discutidos e compartilhados entre os colegas de escola, amigos e também na família, despertando o seu interesse e estimulando-o a prosseguir a pesquisa iniciada por meio da leitura.
Confira abaixo mais sobre a coleção Informação e Diálogo: