Este ano foi diferente de todos os outros que vivemos. 2020 será, para a história, o ano em que a SARS-CoV-2 causou mais de um milhão de mortes no mundo todo. Um vírus menor do que um grão de areia, capaz de trazer a incerteza de futuro aos seres humanos e paralisar planetariamente a economia, o trabalho, a educação, o turismo, a cultura, e outras forças que movem a sociedade.
O que a pandemia não foi capaz de segurar foi o movimento de vários grupos de pessoas que foram às ruas em protesto contra o racismo e a violência policial. 2020 viu renascer em muitos países, inclusive no Brasil, a campanha #blacklivesmatter – ou com três únicas letras BLM – o que em português significa vidas negras importam.
Os protestos sociais a favor dos direitos civis dos afrodescendentes nos EUA é bem antigo: teve início nos anos 1950. Desde então, o país presenciou várias manifestações em nome do racismo. No entanto, nada foi tão impactante quanto o BLM, nascido em 2013, na Flórida (EUA), como reação à morte por arma de fogo de um adolescente negro. Em maio deste ano, em Minneapolis (EUA), o estopim foi o assassinato por asfixia do negro George Floyd, pelo policial branco, Derek Chauvin, que o sufocou com o joelho, por oito minutos.
O BLM derrubou estátuas de escravocratas e provocou uma onda de doações para os coletivos que defendem a justiça racial, demonstrando a necessária e urgente contribuição para esse tema. Apesar disso, é sabido que a violência contra os negros vai continuar na mira da policia, e não só nos EUA, mas em qualquer lugar do mundo em que exista o racismo estrutural.
O racismo no Brasil
No Brasil, a cada 23 minutos um negro é assassinado. São dados do Mapa da Violência, que constam no meu livro “Violência X Tolerância, como semear a paz no mundo”, lançado em 2017. E em agosto, o último senso do Atlas da Violência (IPEA) mostra que nos últimos 10 anos, os casos de homicídio de pessoas pretas e pardas aumentaram 11,5%. Eles tem nome, endereço, trabalho e família: João Pedro, Ágatha, Miguel, Marielle levaram os brasileiros às manifestações do #blacklivesmatter”. O professor Silvio Luiz indaga: ”Nosso país é o que é, e nós somos o que somos, pela maneira como debatemos e combatemos o racismo.“
Uma outra forma de exclusão imposta pelo racismo no Brasil, nos leva de volta à COVID19, pandemia que escancarou de vez a desigualdade social brasileira. A matéria do site G1 trouxe dados do Ministério da Saúde, colhidos no primeiro semestre de 2020: “a cada três brasileiros negros hospitalizados pelo vírus, um morre; enquanto a proporção para os brancos é de um óbito a cada 4,4 casos da doença”. Chamou a atenção da ONU que fez o seu comunicado oficial: “o Brasil é um dos países mais críticos nos cuidados da doença olhando da perspectiva racial”. Não nos surpreende a declaração da jovem que participou do BLM por aqui e disse ter mais medo do racismo do que do vírus.
Atividade: Dia da Consciência Negra
Entre as efemérides relevantes no calendário escolar há uma que pode promover alguma mudança no sentido do exercício da cidadania e da tolerância. É o Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro e instituído em 2003 como feriado facultativo no país. A data homenageia Zumbi dos Palmares, símbolo de luta pela liberdade e valorização do povo negro. Zumbi foi morto, como se sabe, em 1695, pelo português branco André Furtado de Mendonça. O racismo estrutural no Brasil começou faz tempo e não tem data para acabar.
Para mergulhar no tema e proporcionar uma reflexão sobre o racismo que em pleno século XXI corre solto entre nós, trago como dica de leitura o conto “Pai contra mãe” de Machado de Assis. Foi escrito e publicado dezoito anos após o fim da escravidão. Neste conto, Machado reproduz cenas cotidianas de um Rio de Janeiro do início do século XX, protagonista da escravidão urbana, que tem muito a nos relatar. Uma leitura para ser compartilhada entre alunos, família e amigos e criar a oportunidade para conhecer mais sobre nós, brasileiros. Leia, reflita, reveja preconceitos, repense atitudes. Aprendendo sobre quem somos e o que queremos, talvez a gente consiga mudar o que é errado e indigesto.
Se o tal do “novo normal” que tanta gente fala por ai for mesmo capaz de despertar um ativismo dentro de cada um de nós, que nos leve a atuar e a participar de ações que transformem o mundo em algo melhor e mais justo, então tá valendo esse 2020.
Coleção Informação e Diálogo
A coleção Informação e Diálogo trata de temas atuais, que estão em discussão na mídia e que, com certeza, renderão um bom diálogo e uma proveitosa troca de ideias entre os jovens de 11 a 14 anos. Livros em formato de Almanaque que usam e abusam de hipertextos com o intuito de oferecer ao jovem um conjunto de temas que possam ser discutidos e compartilhados entre os colegas de escola, amigos e também na família, despertando o seu interesse e estimulando-o a prosseguir a pesquisa iniciada por meio da leitura.
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