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Inovação com pouca infraestrutura: um manual para professores que querem ir além

Inovação tem sido uma das palavras mais utilizadas quando pensamos numa educação focada nos fundamentos do século XXI: criatividade, resolução de problemas e curiosidade.

Imediatamente, relacionamos inovação a tecnologias digitais ou a termos como: inteligência artificial, robôs, algoritmo, realidade virtual e aumentada, blockchain, não é?

Aí, pensamos: mas na minha realidade, não temos acesso a tantos recursos. Será que isso é um impeditivo para que meus estudantes se formem enquanto pessoas inovadoras, criativas, disruptivas?

Tive oportunidade de conhecer diversas escolas no Vale do Silício, hoje considerado o berçário de inovação do mundo ocidental e imediatamente algo me chamou a atenção: a maioria dessas escolas não explora tecnologias digitais com suas crianças, muito pouco é utilizado no que aqui temos como educação infantil e fundamental 1. Sabe por que? Porque o objetivo é formar crianças apaixonadas por aprender e por criar. Para isso, quanto menos recursos elas tiverem, mais a adaptabilidade, a imaginação, o espírito criativo entrará em jogo.

Realidades diferentes? Completamente, pois um dia esses mesmos alunos terão acesso aos melhores recursos do mundo para criar. Já nossos estudantes e mesmo nós, muitas vezes, não. Nosso contexto é diverso. Mas trouxe essa experiência à tona porque fui professora da escola pública muitos anos e enfrentei desafios de infraestrutura diversos. Mas te afirmo, prof: é possível ser criativo e inovador com o pouco que temos, enquanto lutamos para ter acesso a mais. Por isso, trago algumas propostas para te ajudar a pensar em alguns caminhos, combinado?

  1. Uma das abordagens mais disruptivas e voltadas para esse universo tecnológico é a abordagem STEAM, que mistura áreas como ciência, tecnologia, engenharia, arte e matemática. O propósito consiste em solucionar problemas de forma criativa, refletindo, criando, prototipando. Nas escolas mais inovadoras, criam-se desafios de construção de catapultas, pontes, balanças e outras criações dentro de um contexto que vai além do criar pelo criar, mas isso já é papo para outro artigo. O foco aqui é: temos impressora 3D? Não. Temos tablets com ótima internet? Provavelmente, não. Temos acesso a óculos de realidade virtual? Não. Mas temos materiais recicláveis que podem servir para o desenvolvimento do espírito criativo, para a prototipação, temos acesso a recursos da natureza, como folhas de árvores, gravetos, pedras, flores, para criar maquetes de projetos. Com criatividade e uma ajudinha de alguns colegas ou coordenação, conseguimos criar projetos incríveis que desenvolvam essas habilidades com poucos recursos.
  2. Atividades criativas e significativas não requerem, necessariamente, materiais caros: uma folha de papel manchada com restinho de café pode se tornar um pergaminho, uma carta antiga, um documento antigo, servir como base para obras de arte, conter códigos matemáticos a serem descobertos numa caça ao tesouro, etc.
  3. Olhar para fora: despertar o olhar criativo, para a mudança, atento ao redor, requer a sensibilidade de fruir o que se tem diante de si, de entender a escola como parte integrante da vida e o aprender como parte de toda a nossa trajetória. Variar os espaços onde os encontros acontecem pode ser poderoso: uma leitura embaixo de uma árvore, falar sobre a ida do homem à lua, observando a lua em dias em que ela está aparente, explorar o solo, as pedras, as folhas, a grama, a biblioteca da escola para um sarau literário, a cozinha da escola para beber um café enquanto falamos da política do café com leite, são formas simples de oferecermos uma experiência de aprendizagem que expande os limites da sala de aula física.

Devemos sempre buscar melhorias na realidade escolar de todas as instituições públicas de ensino do nosso país: professores, estudantes e a nossa sociedade precisam disso. Mas enquanto isso, é possível construirmos conhecimento significativo e inovador com muita criatividade, aproveitando os recursos que temos, explorando uma experiência de aprendizagem dinâmica e consistente, como nós e nossos estudantes merecemos e desejamos e que tantos professores Brasil afora já o fazem.

Um super abraço digital,

Prof. Dra. Emilly Fidelix I @seligaprof

Sobre o(a) autor(a)

Artigos

Criadora do @seligaprof, onde impacta milhares de professores de todo o Brasil, palestrante e formadora de professores. É doutora em História Cultural (UFSC), especialista em Tecnologias, Comunicação e Técnicas de Ensino (UTFPR), professora de pós-graduação no Instituto Singularidades. Atua nas áreas de metodologias ativas, storytelling aplicado à educação e BNCC.