Coluna Educação Inovadora

Currículo literário a favor da escrita

Professor(a), quando foi a última vez que organizou, na sua sala de aula, momentos prazerosos de leitura, que contemplassem uma árvore, uma cabana, uma roda de leitura? Para que possamos desenvolver a leitura e escrita nos nossos estudantes, é fundamental desenvolver a fruição leitora!

Dados educacionais de proficiência de escrita e leitura, em especial ao Programa Internacional de Avaliação de Alunos – PISA, demonstram o quão longe estamos desse objetivo. Durante a escolarização, os livros passam a aparecer no cotidiano escolar e os estudantes os enxergam como um obstáculo a ser superado pela forma de apresentação e atividades propostas. Precisamos diversificar a proposta pedagógica para prepará-los para serem leitores críticos, competentes e proficientes e que realizem a leitura e possam se posicionar a partir dela.

A leitura possibilita a abertura de muitas portas e o professor possui um papel crucial de apoiar os estudantes, aguçando os jovens leitores e de planejar um percurso literário que extraia a essência das obras literárias, independente da disciplina que leciona e do ano/série e que favoreça o processo de escrita.

O papel da escola

A escola tem um papel central de permitir acesso de maneira mediada, explorando a diversidade de obras, estilos, autores, temas e de criar espaços e tempos consistentes para que os estudantes possam explorar a leitura, emitir opiniões sobre os gostos e de criar intepretações próprias acerca de narrativas e trocas com os colegas.

É preciso que haja um equilíbrio entre impressões pessoais, sentimentos, pensamentos e a como a leitura se relaciona com a vida e o repertório literário do estudante. E é esse olhar humanizador da literatura que se estende do individual para o coletivo, permitindo que os estudantes compreendam pontos de vista diferentes sobre um tema, subjetividade, trajetórias, entre outros.

Atualmente o professor precisa de jogo de cintura para mediar a leitura, já que as obras literárias competem com atratividade de telas, redes sociais e internet sobre os jovens leitores, sendo necessário diversificar estratégias de leituras e inserindo novas formas de ler dentro do ambiente digital. E temos ainda um obstáculo estrutural do fato da literatura não ter um currículo consolidado com as áreas do conhecimento e sim períodos literários.

A proposta de um currículo literário não é engessar o trabalho docente, e nem realizar uma lista de livros para que os estudantes possam ler, mas de definir o tipo de leitor que desejamos formar e quais habilidades e competências serão desenvolvidas e como será o planejamento para alcançar esse objetivo e a abordagem das obras com o proposito de promover debates, elucidar questões sociais e refletir na escrita dos estudantes. 

Confira a seguir algumas dicas de como realizar um currículo literário com a sua turma.

  1. Escute os estudantes: Envolva os estudantes, eles podem contribuir com as propostas e projetos interdisciplinares para favorecer a formação dos leitores.
  2. Envolva o território: Observar o entorno é uma estratégia muito interessante por trazer pertencimento e encontrar produções culturais locais, além de representatividade.
  3. Exerça o dialogismo: mediar a leitura requer preparo docente, bem como conhecer diversidade de práticas de leituras, em que se destaca o dialogismo, através de clubes de leituras e ou sessões mediadas de leitura.
  4. Diversifique espaços de leitura: Sair da sala de aula pode tornar a experiência rica e prazerosa. Procure outros espaços na escola em que os estudantes possam sentar confortavelmente, deitar e realizar a leitura e que possam trocar entre si, criar vínculos, tornando a leitura um hábito.
  5. Planeje: Planejar é essencial para definir os critérios literários e aspectos linguísticos das obras, além de garantir diversidade de experiências estéticas, culturais, progressão da aprendizagem, formação contínua leitora dos estudantes.
  6. Envolva os colegas docentes: É necessário realizar uma articulação na unidade escolar em prol dos círculos literários, planejando ações interdisciplinares com os colegas e promovendo fazeres pedagógicos diferenciados, como saraus literários.
  7. Diversifique as estratégias de leitura: é preciso considerar os multiletramentos e a cultura digital e compreender que a leitura também ocorre no digital e de muitas maneiras a ofertar atratividade e fruição leitora.

Para reverter o gosto pela leitura é necessário que os estudantes sejam leitores, críticos e participativos, que experiencie sentimentos e que se sintam aguçados pela descoberta e o prazer em ler.

Um abraço e até a próxima! 

Sobre o(a) autor(a)

Artigos

Formada em Letras e Pedagogia, com especialização em Língua Portuguesa pela Unicamp, Débora é Mestra em Educação pela PUC-SP e FabLearn Fellow, Columbia, EUA. Professora da rede pública, idealizou o trabalho Robótica com Sucata, que se tornou uma política pública. É coordenadora do Centro de Inovação da Secretaria Estadual de Educação do Estado de São Paulo. Atualmente, assina a coluna Educação Inovadora no blog Redes Moderna e é autora do livro Robótica com sucata (Moderna, 2021).