Temos vivenciando uma mudança cultural, em que temos visto mulheres ocupando espaços que antes eram tidos como impossíveis para elas. Recentemente, tivemos mulheres que através da tecnologia sequenciaram o coronavírus, auxiliando entender a covid e o seu comportamento no mundo. Que orgulho!
A minha história, como mulher e educadora, também se confunde com as de muitas outras mulheres que lutam para conquistar espaços na sociedade. Tive uma infância muito difícil, criada por minha mãe, que exerceu também o papel de pai e me deixou uma das coisas mais importante da minha vida: a Educação!
No meio de um cenário difícil, em que cresci ouvindo que não seria ninguém pela separação dos meus pais, ela combatia essas duras palavras me dizendo “estude muito, somente o estudo pode transformar sua vida”.
Ainda na minha infância, já fazia coisas que eram tabus para a época, como desmontar coisas, brincar com carrinhos. Nessas brincadeiras sofri minhas primeiras frustrações, ouvindo que isso era coisa de menino e não de menina e muitas foram as vezes em que fui repreendida. Aquelas marcas que carregamos para a vida e que procuro sempre desmistificar com meus alunos.
Durante minha vida profissional, houve um período que atuei como professora e na indústria, descobrindo minha paixão pela tecnologia e compreendendo que ela não podia ficar do lado de fora de escola, que pode alavancar a aprendizagem.
É essencial que as jovens tenham contato com as tecnologias ainda na educação básica, para que aprendam experimentando e que também idealizem o seu projeto de vida.
Quando surgiu a oportunidade de ser professora de Tecnologia, não pensei duas vezes: candidatei-me e fui aprovada pelo conselho de escola. Fiz uma proposta ousada de trabalhar com a cultura maker, programação e robótica, em uma comunidade de extrema pobreza e sem possuir conhecimentos sólidos, porém com o ideal de transformar a vida de crianças e jovens, potencializando o ensino, trabalhando com problemas reais, raciocínio lógico, colaboração e empatia.
Junto aos alunos, criamos o trabalho de Robótica com Sucata, que nasceu do problema do lixo: através de aulas públicas, sensibilizamos a comunidade sobre a sustentabilidade, recolhemos lixo das ruas e levamos a sala de aula para transformar, aplicando os conhecimentos do currículo de forma interdisciplinar em protótipos com sucata. Além dos resultados escolares, isso contribuiu para levantar a autoestima dos estudantes e principalmente das meninas, que falam com segurança de sua expectativa para futuro.
Vídeo do Global Teacher Prize
Decidi ser professora para transformar vidas, romper paradigmas e acredito que podemos promover uma educação de qualidade e com equidade, mesmo diante de tantos desafios.
A escola exerce um papel fundamental para trabalhar a tecnologia como uma propulsora da aprendizagem e fomentar ações para envolver e desmistificar a ideia que computação é uma área masculina; muito pelo contrário, a tecnologia é uma área plural, que necessita da diversidade para torná-la cada vez mais democratizada e acessível.
É essencial incentivar nossas estudantes a seguirem carreiras na área de Ciências e também na de tecnologia, para que ocupem espaços como mulheres de referência como Ada Lovelace, que criou a primeira linguagem de algoritmos, e Margareth Hamilton, responsável pelo sucesso da operação Apollo 11.
A vocês, meninas, que sonham com o espaço das Ciências, da tecnologia e da Engenharia: vão! É preciso romper velhos paradigmas e apropriar-se destes lugares. Aliás, esse espaço é de vocês!
Um abraço,