Coluna Educação Inovadora

Como trabalhar o empreendedorismo nas aulas

A escola possui um papel essencial de ser ativa e proporcionar aos estudantes novas concepções e vivências de aprendizagem.

O tema do empreendedorismo na educação vem ganhando força, porque esse processo é acompanhado de atitude, faz com que nossos estudantes tenham a oportunidade de desenvolver competências e habilidades, além de estratégias de ideias e sonhos relacionados ao seu projeto de vida.

A Base Nacional Curricular Comum (BNCC) prevê uma série de competências para a Educação Empreendedora. Ao analisar as áreas do conhecimento, é possível localizar referências e habilidades relacionadas à atitude empreendedora como o trabalho a partir da colaboração, resolução de problemas reais que beneficiam o social e se utilizam de recursos acessíveis.

A escola é a porta de entrada para trabalhar com o empreendedorismo, que tem o foco na intencionalidade, transdisciplinaridade e o protagonismo juvenil dos estudantes, associado às metodologias ativas, que têm o foco tirar o aluno da passividade e trazê-lo ao centro do processo cognitivo.

A educação empreendedora pode ser trabalhada em qualquer etapa da escolarização – desde os pequenos aos jovens estudantes – e é um dos caminhos para o trabalho a partir de temas integradores, transversais e integrais, sem fragmentações de conhecimento ao permitir que os estudantes teçam reflexões, análises e resolvam problemas, que podem ser da unidade escolar, do bairro e ou que envolvam o território educativo.

Intencionalidade

Para explorar a educação empreendedora é importante trabalhar a partir da intencionalidade, resolver um desafio, pensar em questões que os estudantes tenham que refletir sobre estratégias para resolver e que permitam desenvolver o senso crítico, a autonomia e a ter ideias sustentáveis.

Um por exemplo disso é pensar sob a ótica da questão ambiental. Por exemplo, no trabalho de robótica com sucata que idealizei junto aos estudantes da Emef Almirante Ary Parreiras, tivemos o viés empreendedor, voltado a pensar na sustentabilidade do trabalho, em que a solução se deu através de parceria e da venda de materiais recicláveis a empresas e repasse de verbas a APM (Associação de Pais e Mestres) para torná-lo sustentável na unidade escolar.

Antes de criar a estratégia para sensibilizar os estudantes, eles foram desafiados a pensar, pesquisar, conhecer sobre reciclagem, sustentabilidade, descarte de materiais e o ciclo de vida de materiais e produtos (da fabricação ao descarte), realizar o reconhecimento da comunidade e propor soluções em que uma das estratégias utilizadas foi o design thinking, que consiste em criar uma chuva de ideias para pensar soluções, chegando na proposta da parceria.

É justamente aqui que nasce a intencionalidade e a educação empreendedora, ao permitir que os estudantes de maneira coletiva realizem uma imersão sobre o tema abordado, buscando ideias inovadoras para implementar.

Transdisciplinaridade

O nosso cérebro é dinâmico e não segrega conhecimentos, por isso trabalhar a partir da luz da transdisciplinaridade é essencial para incentivarmos os estudantes a lançarem o conhecimento sobre características múltiplas, desenvolver diversas habilidades e serem criativos.

A transdisciplinaridade pode ser trabalhada a partir de um eixo integrador, que pode nascer de uma área do conhecimento e abarcar as demais. Um exemplo é quando pensamos nas grandes construções da civilização, não é apenas um tema relacionado à história, envolvendo outros conhecimentos, como artes, ciências, filosofia, matemática, linguagens e tantas outras para explicar períodos. E o estudante tem a oportunidade de explorar um mix de conhecimentos, criando associações e permitindo conexões, em que precisa do outro para realizar o seu argumento, sendo uma concepção integral.

Ao fazer isso o estudante está mobilizando diversos conhecimentos, assegurando suas experiências, compartilhando e construindo argumentos para a vida cidadã.

Protagonismo

Desenvolver o protagonismo é um dos maiores desejos da educação moderna e a educação empreendedora pode contribuir com este viés. Ao permitir que os estudantes trabalhem encontrando soluções e com projetos estamos trabalhando com as metodologias ativas e suas modalidades.

O estudante deixa de ser passivo para ser ativo, constrói o seu conhecimento, toma decisões, expõe argumentos e torna-se empreendedor. O papel do professor é de mediar este processo e oportunizar o desafio para encontrar soluções e impasses.

O desenvolvimento destas características nos estudantes consiste em permitir atitudes, questionar processos, que sejam curadores de informações. Ao invés de o professor iniciar a aula questionando o que estudante sabe sobre determinado assunto, deve questioná-lo o que conhecem sobre ele, isso é ter altas expectativas a todos os estudantes e ouvi-los.

Um abraço,

Sobre o(a) autor(a)

Artigos

Formada em Letras e Pedagogia, com especialização em Língua Portuguesa pela Unicamp, Débora é Mestra em Educação pela PUC-SP e FabLearn Fellow, Columbia, EUA. Professora da rede pública, idealizou o trabalho Robótica com Sucata, que se tornou uma política pública. É coordenadora do Centro de Inovação da Secretaria Estadual de Educação do Estado de São Paulo. Atualmente, assina a coluna Educação Inovadora no blog Redes Moderna e é autora do livro Robótica com sucata (Moderna, 2021).