Coluna Educação Inovadora

Educação antirracista: sim, é possível!

Quero começar esse texto, diferente de todos os outros, dizendo: temos a missão de combater qualquer forma de discriminação e ressaltar a importância de uma educação antirracista!

É preciso corrigir anos de desigualdades e políticas de exclusão, em que é necessário o fortalecimento da representatividade e do movimento negro, e do reconhecimento que ao longo da história erramos. Desconstruir a história que por muito tempo foi vista nos livros didáticos e que permeou a construção da ideia de nação, racismo científico com a superioridade genética, construto social e políticas de embranquecimento.

Temos que combater as diferentes formas de racismo: estrutural, institucional e individual. É necessário um aprofundamento macro, micro e educacional. Nossos estudantes são alvos de machismo e racismo, em que diariamente travam lutas pelo direito de existir, de ser e de reconhecimento como um indivíduo dentro da sociedade.

Dados recentes realizados pelo IEDE (Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional) a pedido da Folha de São Paulo, apontam que estudantes negros tm desempenho de dois anos a menos de aprendizado que estudantes brancos já nos anos iniciais.

Os estudantes negros possuem um menor acesso à educação e ao suporte pedagógico. Quando olhamos para o ensino médio, esses dados são alarmantes, como mostram dados do PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), em que 44% de jovens negros não finalizam o ensino médio e 33% de jovens negras não chegam a realizar essa etapa de ensino, sem contar dados sobre a mortalidade e violência. Compreender esses dados é ter a oportunidade de mudar essa realidade e combatê-la também em sala de aula.

São recentes nossas políticas públicas, que necessitam ser valorizadas. Confira abaixo:

A educação tem o papel central de permitir que formemos estudantes para que não sofram com limitações dos estereótipos de gênero, visando educá-los desde as bases para que possam exercer o protagonismo da sua história.

Para Naomy Oliveira, Professora e Gestora de Inovação na Escola de Formação de Profissionais do Estado de São Paulo (EFAPE) da SEDUC-SP, a educação é a principal arma na luta contra o racismo, tanto na formação de jovens antirracistas como no desenvolvimento dos jovens negros, que muitas vezes têm apenas no ambiente escolar a oportunidade de se desenvolver e de lutar pelos seus projetos de vida.

Todo trabalho de formação Antirracista dos profissionais da Educação hoje desenvolvido pela EFAPE tem como objetivo transformar a escola nesse ambiente seguro, efetivamente antirracista e que alcance muito além da pedagogia de eventos, onde a pauta antirracista é lembrada apenas em novembro.

Não basta apenas garantir infraestrutura e acesso à tecnologia, é necessário que isso venha acompanhado de mudanças profundas de pensamento crítico, senso de ética e valores integrais, para que nossos estudantes sejam capazes de questionar os paradigmas que nos trouxeram até aqui, os acolhendo e convivendo com as diversidades.

Educação antirracista

A Educação tem o papel fundamental de consolidar uma sociedade antirracista. Temos marcas profundas adquiridas em mais de 300 anos de escravidão, que ocultaram a história, relações e costumes dos povos negros. É através da educação que temos a possibilidade concreta de transformar essa realidade e fazer um reparo social e histórico.

Abordar o letramento racial e desenvolver uma educação antirracista promove relações saudáveis e valoriza a nossa própria história e cultura. Nossos estudantes têm o direito de conhecer sobre suas origens, antepassados e, principalmente, de acessar recursos para criticar e combater o racismo estrutural. A seguir, vamos conhecer juntos alguns desses caminhos?

Combater o racismo estrutural

Reconhecer o racismo estrutural é a primeira maneira de combatê-lo. Estudar, pesquisar sobre o assunto, trazer artigos, opiniões e vídeos é essencial para professores e estudantes para efetivar o trabalho na sala de aula. Um vídeo que pode ser trabalhado com os estudantes é Vista Minha Pele, que traz a questão do racismo sob uma outra ótica, além de reflexões interessantes. Outra forma de abordagem é através de obras literárias, que o professor pode trazer no momento inicial da aula ou da maneira que achar mais adequada à proposta pedagógica.

Valorizar o currículo

A lei 11.645/2008 representou um grande avanço, ao incluir a história e a cultura afro-brasileira e indígena como temáticas obrigatórias ao currículo da educação básica. Para além da lei, é necessário trabalhar o tema de forma transversal. Um bom exemplo disso são as trilhas de educação antirracista realizadas pelo Centro de Inovação da Educação Básica de São Paulo, em que atualmente sou a coordenadora, fazendo aprofundamentos sobre temas e trazendo a proposta da aprendizagem “mão na massa”.

Temos uma vasta gama de obras que precisam ser trabalhados em sala de aula. O livro “O Mundo no Black Power de Tayó”, da autora Kiusam de Oliveira, apresenta Tayó, uma menina negra que tem orgulho do cabelo afro com penteado black power, enfeitando-o das mais diversas formas. A autora apresenta uma personagem cheia de autoestima, capaz de enfrentar as agressões dos colegas de classe e de combater o racismo. Abaixo, elencamos algumas outras sugestões:

  • Pequeno Dicionário Antirracista – Djamila Ribeiro
  • Mulheres, Raça e Classe – Angela Davis
  • Olhares Negros: Raça e representação – bell hooks
  • Na Minha Pele – Lázaro Ramos

Representatividade

O trabalho sobre a representatividade tem o intuito de resgatar a história dos estudantes e da comunidade escolar, de modo que ajuda a trazer o sentimento de pertencimento aos alunos. Em uma das muitas atividades que realizei com os estudantes, uma sempre tinha destaque no meu planejamento. Tratava-se de um “Museu de Memórias Itinerantes”, em que os estudantes organizavam um espaço na escola para que pudessem construir um memorial aberto para a comunidade, com depoimentos, histórias e objetos. Era um espaço para se reconhecer e preservar suas histórias, bem como falar sobre a juventude negra e os desafios que enfrentam no cotidiano.

A educação antirracista é um trabalho contínuo, que precisa ser realizado sempre, cercado de escutas ativas e acolhimento. A escola possui o poder de transformar a sociedade, que precisa caminhar para uma educação integral, pautada na excelência e equidade.

Um abraço,

Sobre o(a) autor(a)

Artigos

Formada em Letras e Pedagogia, com especialização em Língua Portuguesa pela Unicamp, Débora é Mestra em Educação pela PUC-SP e FabLearn Fellow, Columbia, EUA. Professora da rede pública, idealizou o trabalho Robótica com Sucata, que se tornou uma política pública. É coordenadora do Centro de Inovação da Secretaria Estadual de Educação do Estado de São Paulo. Atualmente, assina a coluna Educação Inovadora no blog Redes Moderna e é autora do livro Robótica com sucata (Moderna, 2021).