Coluna Educação Inovadora

Como exercitar a BNCC na prática

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) esteve presente nas maiores discussões sobre educação nos últimos anos. Me arrisco a escrever que é um documento inédito, escrito a muitas mãos e com muitas vozes, que determina o ensino tanto para as esferas pública e privada de norte a sul do nosso país.

Este documento, homologado pelo Ministério da Educação (MEC), determina as aprendizagens essenciais que todos os estudantes devem desenvolver ao longo de sua escolarização. Entre os normativos, a BNCC apresenta o uso da tecnologia pelas escolas e maior protagonismo dos discentes dentro do processo de ensino e aprendizado. Mas por que ainda é tão incomum ouvirmos sobre como aplicar esse documento na prática?

Para que possamos responder a essa pergunta, precisaremos discorrer sobre a BNCC, seus objetivos e sua relação com a educação inovadora, além do uso das tecnologias. Por fim, trataremos dicas de como incluí-las em planos de aula para que possamos exercitá-la no dia a dia dentro da escola.

Por dentro da BNCC

Primeiramente, a BNCC é um documento que define as habilidades e competências necessárias de aprendizagens que os estudantes devem desenvolver ao longo de sua escolarização. Podemos considerá-la um grande farol que joga sua luz sobre dez competências de ensino relacionadas às áreas do conhecimento.

O objetivo deste documento é garantir que os conteúdos, habilidades e competências sejam únicos para todos os estudantes brasileiros, garantindo excelência e equidade no ensino. Por isso, deve ser interpretado como um conjunto de ações e orientações que norteiam a elaboração dos currículos pedagógicos nas esferas públicas e privadas, com o intuito de assegurar a redução das desigualdades educacionais do nosso país, não apenas nivelando o ensino, mas trazendo excelência a ele.

BNCC e a tecnologia

A BNCC tem uma forte relação com o uso da tecnologia, afinal esta é uma das dez competências de ensino tratadas no documento, o que incentiva a modernização dos recursos e práticas pedagógicas através do uso da tecnologia de maneira transversal nas diferentes áreas do conhecimento.

As competências de número 4 e 5 abordam detalhes de como aplicar isso na prática. Confira abaixo:

“4. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo.”

“5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.”

Podemos perceber, então, que o documento prevê a utilização de linguagens para a expressão e partilha de informações entre elas, com o objetivo claro de diversificar as linguagens usadas em sala de aula, além de reforçar a importância do protagonismo juvenil que orienta a criação e utilização de tecnologias digitais para a comunicação.

Por fim, vale ressaltar que, recentemente, o parecer que define normas sobre o ensino de computação na educação básica foi aprovado. Agora cabe aos estados, municípios e ao Distrito Federal, iniciarem a implementação desta nova diretriz em até um ano. O ministério da Educação homologou o Parecer CNE/CEB 2/2022, que aborda a resolução e institui normas que definem o ensino de computação na educação básica de todo o nosso país.

Aplicando na prática

Como vimos, a BNCC trata de habilidades e competências que precisam ser desenvolvidas ao longo da sua escolarização. Para colocá-la em prática, é necessário fazer uso da tecnologia no dia a dia da educação, com o intuito de melhorar o desempenho do processo de ensino e aprendizagem, expandindo as possibilidades de compreensão e aprendizado dos jovens. Confira abaixo algumas sugestões para que você possa potencializar seu uso na prática:

Plataformas digitais

Nossos estudantes lidam diariamente com ambientes virtuais, seja no contato com jogos ou aplicativos de celular, tablets e computadores. E os professores podem explorar essa familiaridade com o digital.

É possível planejar atividades que possam ser transpostas ou remodeladas para os meios digitais, com a intencionalidade pedagógica. Alguns exemplos são a criação de grupos em redes sociais com discussões temáticas, trabalho no campo da educação midiática e de combate as fake news, entre outros.

Letramento digital

O incentivo e o trabalho a partir do letramento digital, explorando leituras visuais e audiovisuais também pode ser um bom caminho.

Além disso, permite que professor possa trabalhar com a linguagem hipertextual de maneira não linear. Ou seja, com possibilidade de expansão de conhecimento sobre um tema específico, elucidando conceitos, vocabulários, aspectos sociais, culturais e econômicos com ênfase na leitura ativa e interativa.

Produtores de Tecnologia

Uma das vantagens ao trabalhar com o uso de tecnologias é que os estudantes possuem a oportunidade de não serem consumidores, mas sim produtores de diferentes conteúdos. Isso enrique o processo de aprendizagem e o aprendizado colaborativo.

Um bom exemplo é a utilização de ferramentas de edição com comentários e feedbacks em tempo real, como criação de um vlog. Isso permite a exploração de projetos interdisciplinares por meio de construções de narrativas digitais, jogos, comentários, repositórios, sempre com os discentes como curadores de informações. Além disso, permite a realização de atividades mão na massa que vão da esfera desplugada à plugada, envolvendo o eixo do pensamento computacional.

Os professores podem fazer uso de outras ferramentas em seus planos de aulas. A apresentação de conteúdos pode ser feita em slides, vídeos e mapas mentais para que se possa aumentar o engajamento das turmas. Confira alguns exemplos:

  1. Google slides – apresentações interativas das aulas;
  2. Prezi/Canvas – apresentação dos conteúdos em mapas mentais;
  3. Youtube – edição e compartilhamento de vídeos, sendo possível criar listas de reprodução (playlists);
  4. Powtoon – produções de vídeos e animações.

De maneira simples, conseguimos exercitar a BNCC na prática e desenvolver habilidades e competências essenciais à educação nestes novos tempos.

Um abraço e até a próxima!

Sobre o(a) autor(a)

Artigos

Formada em Letras e Pedagogia, com especialização em Língua Portuguesa pela Unicamp, Débora é Mestra em Educação pela PUC-SP e FabLearn Fellow, Columbia, EUA. Professora da rede pública, idealizou o trabalho Robótica com Sucata, que se tornou uma política pública. É coordenadora do Centro de Inovação da Secretaria Estadual de Educação do Estado de São Paulo. Atualmente, assina a coluna Educação Inovadora no blog Redes Moderna e é autora do livro Robótica com sucata (Moderna, 2021).