Coluna Educação Inovadora

4 práticas antirracistas para levar à sala de aula

Primeiramente, começo esse artigo com uma frase da querida Djamila Ribeiro, filósofa, feminista, escritora e acadêmica: “Uma sociedade antirracista é aquela que reconhece a igualdade de valor e dignidade de todas as pessoas, independentemente de sua cor de pele, e que trabalha ativamente para eliminar as estruturas e práticas racistas que perpetuam a desigualdade e a injustiça.”

Assim, para a construção de uma educação antirracista justa e igualitária, uma série de ações e mudanças é essencial tanto no sistema educacional quanto na sociedade como um todo. Algumas medidas necessárias incluem:

Reconhecimento e combate do racismo estrutural

Primeiramente, é fundamental que a sociedade reconheça a existência do racismo estrutural e suas consequências, entendendo que ele permeia todas as esferas da vida, inclusive a educação.

Formação de professores

Os educadores devem receber formação adequada sobre questões raciais, para que possam compreender e abordar o racismo de forma crítica e construtiva em sala de aula.

Currículo inclusivo

Em terceiro lugar, o currículo escolar deve incluir a história, cultura e contribuições de diferentes grupos étnicos e raciais, valorizando a diversidade e combatendo estereótipos e preconceitos.

Materiais didáticos antirracistas

É importante que os materiais didáticos utilizados nas escolas sejam revisados e atualizados, garantindo a representatividade e a não reprodução de estereótipos racistas.

Ambiente escolar seguro e inclusivo

As escolas devem promover um ambiente seguro e inclusivo para todos os estudantes, combatendo o bullying, cyberbullying e a discriminação racial, e incentivando o respeito à diversidade.

Participação da comunidade

Além disso, é essencial envolver a comunidade escolar, incluindo pais, alunos e funcionários, no processo de construção de uma educação antirracista, promovendo diálogos, debates e ações coletivas.

Políticas públicas

Por fim, os governos devem implementar políticas públicas que promovam a igualdade racial na educação, garantindo recursos, programas e ações afirmativas para combater as desigualdades raciais.

Essas são apenas algumas das medidas necessárias para a construção de uma educação antirracista. É um processo contínuo que requer o engajamento de toda a sociedade na luta contra o racismo e na promoção da igualdade racial.

Infelizmente, ainda hoje, o racismo é uma realidade presente em diversas esferas da vida social, e a escola desempenha um papel crucial na desconstrução desse problema estrutural. Para que isso seja possível, é necessário que os professores levem a temática para dentro de sua sala de aula e se inspirem em práticas antirracistas, que visam combater o preconceito e promover a valorização da diversidade étnico-racial. Vamos conhecer algumas dessas práticas que podem ser adotadas para uma sociedade antirracista.

Para levar a sala de aula

Adoção de história e cultura afro-brasileira

Uma das práticas antirracistas que os professores podem adotar é a inclusão de conteúdos que abordem a história e a cultura afro-brasileira e indígena de forma ampla e não estereotipada. É importante que os estudantes tenham acesso a informações que valorizem a contribuição desses grupos para a formação da sociedade brasileira, desconstruindo estereótipos e preconceitos arraigados e principalmente se reconheçam nesse processo. Na prática é fazer valer a lei 10.639/2003 que orienta sobre o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana. 

Ainda sobre essa temática é importante ressaltar o trabalho de reconhecimento e valorização da história e cultura afro-brasileira por meio de oficinas, afinal é essencial que os estudantes tenham a oportunidade de se reconhecer e valorizar a história.

Promoção de debates e reflexões

Outra prática antirracista é a promoção de debates e discussões sobre o racismo e suas consequências. Os professores podem incentivar a reflexão crítica dos estudantes, estimulando-os a questionar as desigualdades raciais e a buscar soluções para combatê-las. Esses debates devem ser realizados de forma respeitosa e acolhedora, criando um ambiente seguro para que todos possam expressar suas opiniões.

Valorização da diversidade étnico-racial

A valorização da diversidade étnico-racial também é uma prática antirracista importante. Os professores podem promover atividades que estimulem o respeito e a valorização das diferenças, como a realização de projetos que abordem a cultura de diferentes grupos étnicos, a leitura de livros que retratem personagens negros e indígenas como protagonistas, entre outras iniciativas.

Sugestões de leitura

Para isso, trago aqui algumas sugestões de leitura que podem ser trabalhadas na sala de aula:

“Pequeno Manual Antirracista” de Djamila Ribeiro: este livro é uma introdução ao tema do racismo estrutural, e oferece ferramentas para identificar e combater o racismo no cotidiano.

“Crianças como você” de James Berry: este livro apresenta histórias de crianças de diferentes origens étnicas e culturais, promovendo a valorização da diversidade e o respeito às diferenças.

“O que é lugar de fala?” de Djamila Ribeiro: neste livro, a autora explora o conceito de lugar de fala, discutindo como as experiências e vivências de diferentes grupos sociais influenciam na forma como enxergamos o mundo.

“O genocídio do negro brasileiro”: processo de um racismo mascarado” de Abdias do Nascimento: nesta obra, o autor analisa a história do racismo no Brasil, desde a escravidão até os dias atuais, além de propor estratégias para combater essa realidade.

“Educação antirracista: caminhos abertos pela Lei 10.639/03” de Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva: este livro aborda a importância da implementação da Lei 10.639/03, que torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana nas escolas, além disso, oferece sugestões de práticas pedagógicas antirracistas.

Além disso, é fundamental que os professores estejam atentos às manifestações de racismo dentro da sala de aula e saibam como lidar com elas de forma adequada. É importante que os educadores estejam preparados para identificar situações de discriminação racial, além disso, devem saber como intervir de maneira assertiva, promovendo o diálogo e a sensibilização sobre a importância do respeito mútuo.

Formação continuada

Por fim, é essencial que gestores e professores busquem por uma formação continuada sobre o assunto. Deve-se buscar atualização constante sobre questões relacionadas ao racismo e à diversidade étnico-racial, participando de cursos, palestras e grupos de estudo na unidade escolar. Essa formação continuada contribui para que os professores estejam cada vez mais preparados para lidar com as demandas de uma educação antirracista e possam lidar com diferentes situações em sala de aula.

Ao adotar essas práticas, os educadores contribuem para a formação de cidadãos conscientes, críticos e comprometidos com a luta contra o racismo.

Um abraço e até a próxima!

Sobre o(a) autor(a)

Artigos

Formada em Letras e Pedagogia, com especialização em Língua Portuguesa pela Unicamp, Débora é Mestra em Educação pela PUC-SP e FabLearn Fellow, Columbia, EUA. Professora da rede pública, idealizou o trabalho Robótica com Sucata, que se tornou uma política pública. É coordenadora do Centro de Inovação da Secretaria Estadual de Educação do Estado de São Paulo. Atualmente, assina a coluna Educação Inovadora no blog Redes Moderna e é autora do livro Robótica com sucata (Moderna, 2021).